Revista Forbes Peru, em 21 de outubro de 2022 (por Lucero Chávez Quispe)
Os veterinários brasileiros Jennifer Hummel e Gustavo Vicente internacionalizaram seus centros de fisioterapia Mundo à Parte em meio à pandemia. Hoje eles atendem 12 mil animais por ano e planejam crescer de 114 para 220 localidades na América Latina até 2024. No Peru, eles acabaram de abrir três centros nas regiões norte. Conheça sua história.
Foto: Os Empresários Jennifer Hummel e Gustavo Vicente da Mundo à Parte
Foi nos primeiros dias de 2020, em meio à chegada do Covid-19, quando o casal brasileiro Jennifer Hummel e Gustavo Vicente se perguntaram se era um bom momento para avançar com a internacionalização de seus negócios.
Na época, a Mundo à Parte, que é um centro de fisioterapia para animais de estimação já estava instalada em todo o Brasil. O casal não imaginava o interesse que despertariam em outros veterinários que desejavam levar o seu modelo de negócio para outros países. Muito menos eles achavam que o crescimento da indústria de petcare estaria à seu favor: eles passaram de 54 unidades (no Brasil) e antes da pandemia, para ter hoje 114 unidades na América Latina e Espanha.
"Os donos de animais ficaram em suas casas, em função dos lockdowns da Pandemia. Eles não podiam sair e nem viajar. Por isso, estavam o tempo todo com seus animais de estimação e prestavam muito mais atenção neles", diz Vicente, CEO e co-fundador da empresa criada em 2012 e que atende mais de 12 mil animais por ano. Essa situação, segundo o executivo, facilitou que os donos percebessem pequenas mudanças no comportamento do animal, como parar de subir em uma cadeira porque suas costas começavam a doer.
Naturalmente, o atendimento na clínica e reabilitação cresceu fortemente na pandemia e permitiu que a marca alcançasse mais países. "Espalhamos a possibilidade de internacionalização em 2020, mas iniciamos em 2021 o treinamento e a operação nesses países. E agora, em 2022, o Peru se junta à marca", diz Hummel, co-fundadora do negócio que ensina e permite que os franqueados realizem diagnósticos ortopédicos e de neurologia e que apliquem reabilitação aos animais de estimação.
O casal se conheceu em 2010 em um curso de fisioterapia veterinária em Buenos Aires. Depois de se casar, eles fundaram a Mundo á Parte em Porto Alegre, quando a fisioterapia para animais de estimação ainda era incipiente no Brasil. A demanda no país – que é considerado o terceiro maior mercado de cuidados com animais de estimação do mundo segundo a Euromonitor – para reabilitar animais de estimação começou a crescer, o que os levou a expandir-se para mais cidades com suas próprias unidades e processos de projeto para padronizar o atendimento. Foi em 2016, quando eles começaram com o projeto da franquia em seu país.
Enquanto cães e gatos são quase todos seus pacientes, Hummel relembra e observa que eles já cuidaram de crocodilos, macacos, coelhos, ratos e outros animais. "Tem até uma cabra que faz hidroterapia em Porto Alegre", enfatiza.
Hoje, o Mundo à Parte é uma rede de franquias que está em 8 países da América Latina. Possui unidades no Brasil (103, das quais 89 estão em operação e as outras em processo de abertura), Peru (3), Colômbia (2), Argentina (1), Chile (1), Paraguai (1), Guatemala (1), México (1) e Espanha (1).
SOFISTICAÇÃO DO MERCADO DE PET CARE NA AMÉRICA LATINA
A indústria pet care no mundo foi uma das poucas que tiveram crescimento na pandemia, devido – em parte – à maior humanização dos animais de estimação durante a crise de saúde. Até a América Latina é a segunda região em que mais pessoas percebem seus animais de estimação como um membro da família, de acordo com uma pesquisa realizada pela Euromonitor este ano.
Como resultado, os donos de animais buscam dar-lhes uma melhor qualidade de vida, o que também inclui serviços médicos mais especializados. A saúde dos animais de estimação, segundo a Euromonitor, é uma das cinco tendências que moldarão a indústria global de cuidados com animais de estimação e impulsionarão a demanda no futuro.
Hummel reconhece precisamente que a região é um mercado que ainda não foi desenvolvido, em um momento em que o acesso à tecnologia de diagnóstico para desenvolver sessões de fisioterapia para animais de estimação é muito semelhante.
"A reabilitação faz com que um animal de estimação que não voltou a andar. Ou que ele não apoiou a pata e agora pode. Ou que [um animal de estimação com] uma doença terminal pode ser proporcionada com qualidade de vida até seus últimos dias."
JENNIFER HUMMEL
"Vemos que podemos aumentar muito o mercado sul-americano", enfatiza Hummel.
A meta que eles estabeleceram para 2024 é chegar a 220 unidades na região, quase o dobro do que têm hoje.
ENTRADA NO PERU
No Peru, os produtos para animais de estimação verticais (que inclui cuidados de saúde) mal totalizaram US$ 6,2 milhões em 2017 e este ano faturariam US$ 16,6 milhões, segundo a Euromonitor. Embora seja um crescimento de 168,3% em cinco anos, a realidade é que ainda falta consciência médica sobre a saúde dos animais, revela Ronald Cueva, que vai operar as três unidades franquedas do Mundo à Parte, no Peru.
"Estamos um pouco atrasados, uns 10 a 15 anos, do Brasil. Não há consciência médica de que existe a especialidade da fisioterapia [para animais de estimação]. Então, a maioria [veterinário] termina de fechar o círculo em cirurgia e depois disso milhares de problemas são gerados [em animais]", diz o veterinário.
"Depois das cirurgias, não tive para onde mandar o paciente para pós-cirúrgico [tratamento]. Então, era uma necessidade e havia uma demanda que precisava ser coberta", conta o peruano, que aprendeu sobre a franquia após iniciar uma especialização em ortopedia para animais de estimação no Brasil.
Os três escritórios que foram abertos no Peru estão localizados em Piura, Chiclayo e Trujillo, após a equipe de Cueva ter sido treinada no Brasil pela equipe do Mundo À Parte. Vicente indica que a chegada de uma franquia em Lima "é apenas uma questão de tempo".
Quanto aos preços, a clínica trabalha com um plano de tratamento baseado em cada patologia do animal. Por exemplo, um animal de estimação que tenha uma lesão no ligamento do joelho exigirá entre 2 e 3 meses de cuidados com 16 sessões de reabilitação, com preços por sessão em torno de S/120. O ticket médio por tratamento adiciona Hummel, é entre S/1.200 e S/2.200, muito em linha com as taxas movimentadas no Brasil.
Vale ressaltar que, considerando as especialidades do veterinário. Cada franqueado também pode realizar acupuntura, terapia de ozônio, cromoterapia, reiki, quiropraxia e outros serviços médicos.
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